sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Entrevistas de André Gonçalves e Fábio Figueira

Na sequência do anúncio público da sua retirada da natação competitiva, o site noticioso de Natação Chlorus entrevistou os nossos atletas André Gonçalves e Fábio Figueira, entrevistas que agora divulgamos na íntegra.




Entrevista a André Gonçalves:

Começou no Belenenses, mudou-se para o Clube de Natação da Amadora e regressou ao Restelo para terminar a carreira em beleza. Em entrevista ao Chlorus, André Gonçalves revela as saudades que a natação vai deixar e o que sentiu na hora da despedida.

Pôs fim à carreira de nadador no último Campeonato Nacional de Clubes. O que motivou esta decisão?

Estou a fazer um doutoramento em Biologia do Desenvolvimento, já estou no último ano e tenho de começar a escrever a tese, que me vai levar muito tempo e não me iria permitir nadar. Para mim não faz muito sentido nadar em alta competição a 20 ou 30 por cento, ou se está a 100% ou não se está. Foi uma escolha que tive de fazer para terminar a tese.

O que sentiu quando terminou a última prova e percebeu que este ciclo tinha chegado ao fim?

Senti que foram 20 anos óptimos! Não me lembro de muita coisa da minha última prova, fui o mais profissional possível, saltei e fui nadar porque naquela altura tínhamos de terminar em primeiro. Nos últimos 5 metros, pensei: olha, está quase a acabar. Lembrei-me da última braçada, em que disse: já está! Ainda estava a festejar com os meus colegas quando vi que o meu treinador estava a chorar, vi que os meus pais também estavam emocionados e posso dizer que foram 20 anos muito bem gastos; se tivesse oportunidade de repetir, eu repetia.

Teve uma carreira longa. Que balanço faz destes 20 anos?

Um balanço muito positivo, pelos amigos que fiz, pelos locais que visitei ao longo destes anos… vou levar tudo isso para o resto da vida e recordar sempre a minha carreira como uma boa experiência, foi muito bom.

Para além do Belenenses que outros clubes representou?

Além do Belenenses, representei apenas o Clube de Natação da Amadora. Fui formado no Belenenses, fiz lá a carreira de pré-competição. A partir de 1997 passei a integrar os grupos de cadetes e fiquei lá até 2009. Depois estive 4 anos na Amadora, até 2013. Na época dce 2014/14 regressei ao Belenenses.

De que é que vai sentir mais saudades?

De um bocadinho de tudo. A natação não é só provas e bons momentos; há muitos momentos stressantes no backstage, desde acordar cedo para ir treinar, chegar cansado ao trabalho e adormecer na secretária enquanto que as outras pessoas estão a começar o dia. Vou sentir falta de isso tudo, de gritar pelos meus colegas, vou ter saudades das viagens, daquelas horas todas no autocarro ou na carrinha, do nervosismo das provas, das pessoas, do ambiente … é uma mistura de coisas más com coisas boas.

Se tivesse que destacar os melhores momentos da carreira, quais seriam?

O meu melhor momento, em termos individuais, foi em 2013, nos Campeonatos Absolutos de Portugal, em Famalicão, quando fui vice-campeão nacional absoluto dos 400 estilos. Foi a minha primeira medalha individual, numa prova onde não esperava chegar às medalhas e acabei no segundo lugar. Não me vou esquecer da primeira vez que subi ao pódio e a felicidade que senti. Tenho outros momentos muito bons, um deles no Clube de Natação da Amadora, quando ganhámos a Primeira Divisão masculina duas vezes consecutivas, embora eu fosse suplente da equipa e não tenha participado directamente nas conquistas. O terceiro momento que destaco foi a minha estreia na Primeira Divisão, nos Campeonatos Nacionais de Clubes e o meu último grande momento foi nestes últimos nacionais de clubes, quando consegui pôr o Belenenses na Primeira Divisão. Em termos masculinos nunca o tínhamos conseguido e foi um feito bonito para me despedir .

Quão especial foi terminar a carreira a subir de divisão pelo Belenenses?

Foi bastante especial porque estive 16 anos no Belenenses, desde cadete até sénior. Vi muito bons nadadores passarem pelo clube, outros que quando chegou o seu tempo desistiram, muita gente que saiu mais cedo do que eu. Acho que foi uma espécie de homenagem a eles, sei o que nadavam e trabalhavam no dia a dia, mas não conseguiram passar por esta experiência que eu tive. A esse nível sinto-me um privilegiado e foi uma espécie de agradecimento a toda a instituição que é o Belenenses e às pessoas que estiveram sempre comigo e me viram crescer, foi bonito.

Agora que deixou as piscinas, que planos tem para o futuro? Vai continuar ligado À natação?

Vou continuar ligado mas indiretamente. Vou apoiar os meus colegas na bancada, fazer visitas constantes e vê-los nas provas lá fora. Já não posso nadar, mas acho que ainda posso contribuir para os motivar nas provas.

Seguir a carreira de treinador é uma hipótese?

A minha área profissional nada tem a ver com desporto e eu não tenho qualquer curso de educação física. A curto e médio prazo não pretendo seguir a carreira de treinador, a minha ligação à natação vai ficar pelo apoio aos meus colegas.


Entrevista a Fábio Figueira:


1.      No passado domingo pôs fim à carreira de nadador, por que motivo decidiu fazê-lo?
Nado há cerca de 20 anos e desde que comecei a competir nunca fiz uma pausa ou deixei uma época a meio. Nos últimos anos, devido á minha atividade profissional (designer gráfico) comecei a ter menos tempo para treinar então, em 2014, estipulei junto do meu treinador que acabaria esta "viagem" em 2016 na subida de divisão do Belenenses.
 
2.      O que sentiu quando saiu da piscina e percebeu que “acabava ali”
Tentei aproveitar a minha última prova ao máximo, toda a envolvência, o barulho das bancadas, as ultimas braçadas. Não é fácil, foram muitos anos. Claro que fica sempre aquela nostalgia e as lágrimas insistem em querer cair, mas o sentimento é 100% positivo e de orgulho.
 3.                  Foram cerca de 20 anos a nadar, que balanço faz da sua carreira?~

Olhando para trás e vendo a quantidade de atletas da minha geração que foram abandonando a modalidade precocemente, só posso fazer um balanço positivo. Quer por me ter conseguido manter no desporto tanto tempo, terminando o curso superior e estando já a trabalhar como designer desde 2011, quer por ter conseguido manter resultados de bom nivel ao longo de todos estes anos.
4.                  De que é que vai sentir mais saudades?
 
Acho que quando se passa tanto tempo numa modalidade acaba por se sentir falta de tudo. Claro que os momentos da competição são os mais marcantes. Aquele nervosinho na camara de chamada, o silêncio ensurdecedor antes da partida... acho que vou, acima de tudo, ter saudades de competir e de toda a envolvência, viagens, estadias, colegas e adversários...
5.                  Se tivesse que escolher o(s) melhor(es) momento(s) da carreira, quais seriam?

Talvez o nacional de clubes da 1ª divisão em 2009 pelo CN Amadora. Há 6 anos que não ganhávamos e nesse ano tínhamos tudo a nosso favor. Batemos todos os recordes de estafetas (alguns ainda hoje se mantêm) e fizemos provas incríveis. Selámos a vitória no campeonato nos 100L e fui eu que nadei a prova. Lembro-me que tinha de ficar á frente do Olaf Wildboer que representava o CF Vilacondense... e fiquei mesmo. Ganhámos aí o campeonato, fiz o meu melhor tempo de sempre e quando cheguei a bancada o meu treinador (Filipe Coelho) disse-me: "Fico feliz que tenhamos fechado a vitória na tua prova!"
Não podia ter sido melhor.
 
6.                  Quão especial foi terminar a carreira a subir de divisão pelo Belenenses?

Quando voltei do Porto para Lisboa em 2014 e decidi acompanhar o Fernando Couto e outros atletas que tinham sido meus colegas no CN Amadora para o Belenenses, defini com ele um prazo de 2 anos com vários objetivos por cumprir. Em termos de tempos e classificações, ao longo das 2 épocas consegui cumprir todos, faltava-me apenas a subida de divisão que era de vital importância para este projeto e que em 2015/2016 nos tinha escapado na última prova do campeonato para a SFUAP. Decidi fazer um pequeno esforço durante mais meia época para que isso acontecesse. Felizmente conseguimos a subida e mais especial foi porque as raparigas também subiram!
7.                  Agora que pendurou a touca e os calções, que planos tem para o futuro? Vai continuar ligado à modalidade?
 
Foram muitos anos de cloro e quero afastar-me, sem nunca "desligar" totalmente, tenho muitos amigos, quer nadadores quer treinadores e vou querer acompanhar sempre as suas conquistas. Claro que conto aos poucos ir-me atirando á água nos campeonatos de Masters, porque o bichinho da natação nunca morre, mas para já vou-me focar a 110% na minha carreira profissional. A médio prazo gostava de começar uma carreira de treinador nas camadas jovens do Belenenses.

2 comentários:

Anónimo disse...

Exemplos. Felizmente na natação temos atletas que treinam mais do que noutras modalidades e constroem carreiras para a vida! Parabéns!

Anónimo disse...

Enormes! Um abraço para os dois!

Manuel Sequeira